terça-feira, 10 de setembro de 2013

Café com rock

Estou gostando de vir nesse lugar aqui, o Curto Café. Essa cafeteira tem um conceito muito interessante, porém me parece de difícil implementação, ao menos aqui no Brasil. Eles querem que cada cliente pague o preço que considere justo pela xícara do espresso gourmet desenvolvido com exclusividade para eles. Considero uma proposta bastante ousada e inovadora. Ela mexe com a ética, com o senso de valores das pessoas que frequentam o lugar.


A cada semana a estratégia de venda deles muda um pouquinho: eles estão ainda adaptando esse conceito de pagar um preço justo e individual. Até a penúltima vez que tinha ido lá, eles informavam que o preço sustentável era de R$ 3,50. Pela atitude e iniciativa, costumava (e ainda costumo) pagar R$ 4,00, o que ainda é um preço menor que o praticado usualmente (lembrando que se trata de uma iguaria exclusiva). Mas já vi uns e outros pagarem R$ 1,00. Bom, se a coisa anda difícil, beleza. Até porque os caras resolveram deixar o preço em aberto justamente para que todos possam desfrutar, independente da condição financeira. Mas quem visivelmente tem condição de pagar o preço sustentável, por que não fazê-lo? Até porque, se todo mundo resolver pagar um valor irrisório pelo produto, ou dar um calote, ele não será mais viável. Se continuar desse jeito, quem hoje curte o espaço, que representa muito mais que um bom café, em breve poderá deixar de tê-lo.

Gosto muito do clima de lá: o astral é alto, a conversa é boa. Por isso divulgo para o maior número de pessoas possível, frequento e pago um valor que, na minha visão, reflete os benefícios que recebo, em termos de sabor, ambiência e simpatia dos donos da idéia. Sim, pago também porque gosto deles. Não é isso que as grandes marcas fazem com a gente? Nos fazem gostar delas para que paguemos o preço que elas propõem? Eles não são uma grande marca, mas e daí? Acho mais legal recompensar a eles, com quem eu convivo minimamente, que pagar a uma entidade cujas pessoas eu nem conheço.
Impossível pra mim não associar a proposta dos caras ao que é vivenciado pelas pessoas envolvidas com projetos culturais independentes. Músicos, escritores, artistas plásticos...
 Mas destaco entre essas cenas (obviamente) o som underground. São mil e uma bandas, produtores, rádios e blogues, cada qual querendo mostrar sua maneira de fazer e curtir música, lutando por um lugar ao Sol. Diversas propostas sonoras esperando para serem ouvidas, e que não são piores que quaisquer outras bandas, festivais e sites que tenham alcançado a fama. É apenas diferente e está esperando o apoio do público.
Quanto à cafeteria, não sei por quantos meses ainda conseguirão manter o lugar. As contas estão expostas no quadro verde para que todos possam acompanhar a evolução do empreendimento.


Torço por eles e vou fazendo a minha parte. Gostei da idéia e sinceramente espero que esse lugar e essa atitude inspirem cada vez mais pessoas a darem o melhor de si. No caso deles, café espresso gourmet e muita simpatia.


O mesmo faço em relação ao underground. Gosto, vivencio, divulgo. Não quero que acabe, nem que fique sem graça. Quero que viceje, dê frutos e alegrias. Quero que as pessoas conheçam e curtam, igual meu atual café favorito.
Uso meu poder de consumidora para fazer as coisas realmente legais acontecerem. Não preciso de um grande selo ou uma grande emissora pra dizer o que é bom pra mim. Sou plenamente capaz de escolher o que quero ver, ler, beber ou ouvir por conta própria, explorar meus próprios caminhos em busca de arte, lazer e cultura.
Convido os leitores a conhecerem o Curto Café: parem lá pra tomar um espresso ou um capuccino. Vale super a pena. E convido também a quem está acessando esse blog pela primeira vez, a consumir cultura independente. Experimente! Leia um livro de um autor que ainda não seja famoso, ouça a música de uma banda sem selo de gravadora, assista a uma peça de teatro com atores que você nunca viu antes. Faz bem pra alma perceber o quanto é desnecessário prender-se à grande mídia.

Onde fica:
Rua São José, 35, Rio de Janeiro
https://www.facebook.com/curtocafe

6 comentários:

  1. Nossa, Si, que ideia genial, também acho que no Brasil essa moda de pagar o que acha justo não pega porque infelizmente o brasileiro não é muito honesto, mas é uma ideia inovadora e muito interessante. E amei também o final do seu post incentivando que as pessoas se deem a oportunidade de conhecerem a cultura independente. Obrigada pela força nesse sentido, já que estou nessa. ;)
    Beijo, beijo!

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    1. Sheila, querida! Tudo que a galera independente precisa é a tal chance, uma exposição boa e honesta. Mas é mais lucrativo investir em poucos e ficar martelando-os o tempo todo...
      A gente acaba meio que refém das grandes mídias, até tentar se libertar um pouquinho, arriscando experimentar o que a gente não conhece. E isso vale pra todas as áreas.
      Amei a coragem desses caras, a iniciativa deles é louca e genial.

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  2. "Não preciso de um grande selo ou uma grande emissora pra dizer o que é bom pra mim" esse sim é o significado mais importante de ser independente. O público tem que pensar independente tbm, saber reconhecer o que é bom, o que gosta e recomendar.

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    1. É isso aí, Natália! E essa liberdade de escolha é uma delícia de exercer!

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