Quem toca bateria tem um sério problema na
hora de praticar em casa: perturbar os vizinhos. É muito fácil isso acontecer,
então muitas vezes o músico acaba apenas ensaiando em estúdio e deixando os
exercícios diários de lado, pois não quer ouvir o interfone tocar depois de
apenas 5 minutos empunhando as baquetas.
Quem toca guitarra, baixo, teclado ou outro
instrumento eletrônico não encara esses problemas, pois pode escutar o som no
fone ou regular o volume de forma a não perturbar. Mas quem toca bateria ou
outro instrumento acústico, bom... Aí a coisa muda de figura.
Uma solução ideal seria montar um estúdio
em casa, mas nem sempre temos um cômodo disponível ou o dinheiro no bolso (se
tiver, me chame para fazer seu projeto! Kkkk!). Essa alternativa, portanto, não
serve para a maioria.
Alternativamente, pode-se comprar uma
bateria eletrônica. Algumas são bem fiéis ao som de uma bateria verdadeira, mas
essas costumam ser bem caras. A vantagem é que demandam menos isolamento, além
de oferecer algumas vantagens como tornar mais fácil gravar em casa, ocupar
menos espaço, etc.
Outra opção é o módulo de treino. Não é tão
divertido quanto uma bateria completa, mas é ótimo para evitar conflitos com os
vizinhos a um custo menor. Fora isso, os módulos tem exercícios programados,
alternando, por exemplo, diferentes andamentos do metrônomo.
Com custo mais reduzido ainda, há os
praticáveis emborrachados que, junto com o metrônomo, formam um kit básico e
essencial para melhorar o desempenho.
É, o equipamento eletrônico ajuda, mas no
caso da bateria, o problema não é eliminado. Mesmo sendo uma das alternativas
menos barulhentas, há um tipo de ruído que é uma praga, difícil de tratar, e
atende pelo nome de ruído de impacto. Ele é gerado principalmente pelo bumbo,
pois é a peça mais próxima do chão e que recebe a batida do pedal, a mais forte
de todas.
Essa desgraça sonora percorre as estruturas
do prédio, atingindo não só seu vizinho de baixo, mas o do lado, o de cima e
quiçá o seu síndico, que mora no penúltimo andar, enquanto você mora no
terceiro.
Não adianta colar caixa de ovo nas paredes,
ou simplesmente colocar borracha ou carpete no chão. Esse ruído precisa de
tratamento especial.
E esse tratamento é dado por um conjunto de
camadas, cada uma com sua função.
O ruído de impacto é transmitido pelo
contato entre os elementos. Isso quer dizer que quando seu pé pressiona o
pedal, ele transmite energia mecânica para o chão e para o bumbo. Parte dessa
energia mecânica se transforma em energia sonora (pra você, som; pro seu vizinho,
ruído aéreo), outra parte em energia térmica, e outra parte vai entrar no seu
chão, na sua laje, nos pilares e vai fazê-los vibrar, transformando-se em
energia sonora (ruído) mais adiante. Em todos os andares.
Mas como evitar o ruído de impacto? O ideal
seria que a bateria flutuasse no ar. Como isso é um privilégio exclusivo do
Joey Jordison (Slipknot, Murderdolls - quem assistiu ao último Rock in Rio sabe do que eu estou falando), aos simples mortais resta a criatividade.
Pois bem, todo e qualquer material tem lá
suas propriedades acústicas: uns refletem os sons, outros absorvem. Esses que
absorvem, dependendo de como são seus poros, absorvem faixas de frequência
diferentes: mais graves, mais agudas. Usando camadas de diferentes materiais,
dá pra cumprir as diferentes funções, exigidas pra esse isolamento em questão.
A primeira necessidade é diminuir o contato
do instrumento com o chão. Aqui em casa, improvisamos com aquele piso de
banheiro de academia. Só que ele desliza, então precisava de mais uma camada
embaixo. Optamos por uma borracha, que além de segurar, funciona como uma mola,
diminuindo ainda mais a transmissão do
impacto.
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Aí, as três camadas! Uma borracha grossa, o "piso de banheiro" e o carpete sintético. O custo foi bem reduzido e o resultado, ótimo! |
E por cima, mais uma camada com dupla
função: o capacho sintético segura bem o pedal e o bumbo, além de absorver
parte do espectro sonoro.
Deve-se tomar o cuidado de não deixar o
equipamento encostar na parede, pois aí o ruído de impacto será transmitido
para ela e adeus isolamento.
Agora, o ruído de impacto foi praticamente
eliminado; só se escuta o ruído aéreo até a nossa sala. Já dá pra treinar todo
dia!
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Aqui, uma geral do conjunto. Só lembrando, a borracha também não encosta na parede. Quanto menos pontos de contato, melhor! |